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BLUE DAYS

Blue Days / Dias Azuis
Apresentação do Catálogo e Curadoria da Mostra 
Ana Luiza Howard de Castilho
 
I sogni non vogliono farvi dormire, al contrario, vogliono svegliare. (René Magritte)

 

Azuis são os dias em que representamos o mundo por meio do nosso olhar. Sim, dias azuis vibrantes são aqueles em que vencemos algumas dúvidas e certezas, e após uma série de dias de colorido mais sóbrio, desatamos parte dos nós que enlaçam o conhecimento adquirido.

Um artista que se inspira no arquétipo do homem renascentista à medida que é arquiteto, artista, fotógrafo, escultor, escritor e que também se preocupa com a técnica, buscando inspiração, por meio da transpiração e da observação dos desenhos de botânica ou de anatomia, como os de Shinnin Kawaguchi, Adriaan Van Spiegel e Bernhard Seigfried Albinus, desenhistas que por meio de observação anotavam com objetivo de conhecer o corpo humano e davam a ele sua possível representação. Este trabalho foi de suma importância para os avanços da medicina durante mais de cinco séculos.

Apesar das dificuldades inerentes à representação que possam ter surgido, idade, sexo e raça são alguns fatores que podem propiciar o surgimento de variações entre as peças anatômicas, tais quais outras características permitem observar as variações na botânica. No entanto, o olhar sobre repetidas peças nos leva a organizá-las, a buscar uma seriação.

Quinhentos anos mais tarde, dissecar o cérebro humano já é possível desde seu genoma celular até os circuitos neuronais - que processam as informações - compreendendo todas as camadas e zonas ou regiões cerebrais. Entretanto, a criação do computador que possa replicar o funcionamento do cérebro humano, torna-se objetivo deste empenho. Revisitando Gertrude Stein (1926) quem entendia que os artistas têm esta capacidade de criar no seu tempo a partir de um olhar particular que para os seus contemporâneos pode ser inaceitável. Neste mesmo sentido, Ezra Pound apresenta o seguinte questionamento no livro The ABC of Reading (1934): "(...) antes de decidir se um homem é um tolo ou um bom artista, faria bem perguntar não apenas se ‘ele entusiasma-se sem motivo’, mas ‘será que ele está vendo algo que nós não vemos?’. Seu comportamento esquisito será fruto de sua percepção de um terremoto iminente, ou por sentir o cheiro da fumaça de um incêndio que nós ainda não vemos ou sentimos?" [1] Confirmações de pensadores históricos para constatações contemporâneas: talvez seja bom observar com delicadeza os movimentos que podem não ser absorvidos com naturalidade.

Lápis, fotografia, litografia, lito-offset, impressão em água-forte, módulos escultóricos e desenho digital. Estes são os meios escolhidos por Carlos Rezende para representar como que vê o seu ser contemporâneo transpondo o corpo – matéria anatômica - para o desenho do corpo por meio de uma plataforma vetorial, que resulta no projeto de ‘módulos ficcionais de anatomia’, confirmando assim que o que lhe interessa é o processo de notação, cunhado por Renina Katz, e não a representação literal do objeto como objetivava sua fonte de consulta e inspiração.

Os meios de representação o conduzem ao estabelecimento de um vínculo entre a seriação dos objetos e da forma pela qual ele os representa. Série, neste caso, gera uma identidade, com sentido de unidade, e não com sentido de igualdade. A seriação é um componente importante em sua obra, pois seus projetos são passíveis de multiplicação e ele, gentilmente, os cede para nossa apreciação.

Contudo, o ofício do artista é pautado por indagações que surgem do processo de construção de seu trabalho e estas não buscam ser conclusivas, ao contrário, elas permanecem em aberto justamente para garantir a elas indispensáveis reformulações.

Que os ‘Blue days’ permaneçam entre nós.

 

  1. http://ricardo-domeneck.blogspot.com.br/2011/03/tristeza-de-perceber-que-frente-de-seu.html

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